[RESENHA] EXTRAORDINÁRIO - R. J. PALACIO

Título Original: Wonder

Autor: R.J. Palácio
Ano: 2013

Gênero: Sick-Lit
Editora: Intrínseca

Número de páginas:  336
Nota pessoal:  4/5

“Ela não acha que eu seja comum. Diz que acha, mas, se eu fosse comum, ela não precisaria me proteger tanto. Mamãe e papai também não me acham comum. Eles me chamam extraordinário. Talvez a única pessoa no mundo que percebe o quanto sou comum seja eu.

Aliás, meu nome é August. Não vou descrever minha aparência. Não importa o que você esteja pensando, porque provavelmente é pior.” Pág. 11

Acho que sou uma das poucas pessoas nesse planeta que ainda não conhecia a história do Auggie, mas não me julguem, é muita coisa para dar conta. Contudo, esse fim de ano finalmente comprei o livro, precinho ótimo na Black Friday, e o li. Hoje conto a vocês o que achei de Extraordinário da autora R. J. Palácio.

August Pullman, o Auggie, tem 10 anos e sabe que não é um garoto comum. Quer dizer, ele se vê como uma criança normal e é claro que ele faz coisas normais. Toma sorvete, anda de bicicleta, joga bola. Essas coisas o fazem ser comum, por dentro. Mas ele também sabe que crianças comuns não fazem outras crianças saírem correndo do parquinho. Ele sabe que as outras pessoas não ficam encarando crianças comuns aonde quer que elas vão.

Acontece que, em decorrência de uma síndrome genética, Auggie nasceu com uma severa deformidade facial. Foram 27 cirurgias desde seu nascimento e sua saúde sempre foi muito frágil, o que o obrigou a ser educado em casa pelos pais. Mas agora Auggie está mais forte, sua última operação acontecera oito meses atrás e provavelmente ele não precisaria de outra pelos próximos anos. Por isso sua mãe decide que chegou a hora de August frequentar uma escola de verdade e isso o deixa apavorado.

Não é fácil começar numa escola nova, e para August é mais difícil ainda. Tudo que ele queria era um rosto comum, no qual ninguém prestasse atenção. Seus pais o amam e lidam bem com isso, sua irmã Via, talvez nem tanto. Ela não acha que Auggie seja comum, diz que acha, mas se fosse verdade não precisaria protegê-lo tanto. Na verdade, a única pessoa que percebe o quanto Auggie é comum é ele mesmo. E essa será sua grande missão na escola nova, provar que, apesar da aparência incomum, ele é uma criança igual a todas as outras.

“Não sei bem por quê, mas, de repente, comecei a chorar.

Mamãe abaixou o livro e me abraçou. Não parecia surpresa por eu estar chorado.

- Tudo bem – disse ela baixinho em meu ouvido. – Vai ficar tudo bem.

- Desculpe – falei, entre fungadelaas.

- Shhh – sussurrou mamãe, limpando minhas lágrimas com as costas da mão. – Não tem por que se desculpar...

- Por que eu tenho que ser tão feio, mamãe? – murmurei.

- Não, querido, você não é...

- Eu sei que sou.

Ela beijou meu rosto todo. Beijou meus olhos, que eram muito caídos. Beijou minhas bochechas, que pareciam afundadas demais. Beijou minha boca de tartaruga.

Disse palavras gentis, que, eu sabia, eram para me ajudar, mas palavras não vão mudar meu rosto.”  Pág. 67

* * *

Lindo demais! Gamei nesse livro logo no primeiro capítulo, quando a autora nos apresenta o Auggie, e depois disso foi puro amor. Me perdoem o trocadilho, mas não lembro de já ter lido sobre uma criança tão extraordinária. 

A narrativa do Auggie é tão sincera, tão esmagadora. Ele é sensível, gentil e muito maduro para a idade que tem, mas como poderia ser diferente, diante de tudo pelo que já passou? Li algumas das partes narradas pelo garoto com os olhos cheios de lágrimas, em outras até sorria com seu bom humor e sua força ao continuar seguindo em frente, a pesar de todos os desafios.

Mas Extraordinário não se limita em mostrar apenas o ponto de vista do Auggie. A narrativa alterna sob diferentes perspectivas e isso foi fundamental para que possamos entender como pensam as pessoas ao redor do protagonista. Fiquei dividido com a Via. Por um lado sei que a garota ama o irmão e faria qualquer coisa para vê-lo feliz, também entendo sua abnegação ao viver sempre a sombra do irmão com saúde frágil e imperfeição facial, mas isso não me impediu de ficar triste com algumas de suas atitudes. A Summer é puro amor. Enquanto todos apenas olhavam e cochichavam sobre o garoto estranho, ela foi até ele, ficou ao seu lado e não hesitou em se tornar uma grande amiga. O Jack é bem legal e foi ótimo acompanhar sua evolução. Já o Justin é a personificação do quanto crianças também poder ser maldosas e cruéis. Na verdade, todos os personagens desse livro são ótimos e nenhum fica a margem da história.  

Ao longo do livro, sempre que um novo personagem conhecia o Auggie e reagia ao seu rosto, eu refletia. Fico pensando como eu agiria numa situação dessas. Será que deixaria transparecer? Como eu me comportaria? Sinceramente, não sei responder, mas gostaria de pensar que agiria de forma natural, enxergando além da aparência física.

A narrativa, em primeira pessoa, é de uma leveza única. A linguagem usada pela autora, aliada aos capítulos curtinhos, deixa o livro bem dinâmico e fácil de ser lido. A diagramação é bem caprichada e bonita. O texto também é repleto de referências literárias, musicais e cinematográficas, o que achei bem legal.

Bem, esse é mais que recomendado. Extraordinário é daquelas histórias que encanta e leitor e que certamente lhe somará excelentes lições ao final da leitura. Por favor, confiram! 

Interligados:

* 365 Dias Extraordinários;

* O Capítulo do Julian