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[ RESENHA ] ESCURIDÃO TOTAL SEM ESTRELAS - STEPHEN KING




Título Original: Full Dark, No Stars
Autor: Stephen King
Ano: 2015
Gênero: Contos, Terror
Editora: Suma de Letras
Número de páginas:  390
Nota pessoal:  5/5

É no momento mais sombrio de suas vidas que encontramos os quatro protagonistas de um dos mais recentes lançamentos no Brasil do mestre do terror, Stephen King. Mesmo se tratando de um livro de contos, gênero que geralmente não me encanta, não consegui resistir à premissa de cada história nem a edição primorosa da Suma de Letras. Hoje conto minhas impressões sobre Escuridão Total Sem Estrelas.

“Essa conversa aconteceu no quintal entre a casa e o celeiro, e a ideia dela de justiça encerrou a discussão. Arlette passou pelo quintal, os delicados sapatos da cidade levantando poeira atrás dela, entrou na casa e bateu a porta. Henry se virou e olhou para mim. Havia sangue no canto de sua boca, e o lábio inferior estava ficando inchado. A raiva nos olhos dele era daquele tipo nua e crua que só os adolescentes são capazes de sentir. É uma raiva que não pesa as consequências. Ele assentiu. Eu assenti de volta, com o mesmo ar sério, mas por dentro o Homem Conivente sorria.
Com aquele tapa, ela havia assinado sua sentença de morte.” Pág. 17

Em 1922 conhecemos o agricultor Wilfred Leland James e acompanhamos em sua confissão os motivos que o levou a, em Junho do ano que dá nome ao conto, matar sua esposa Arlette e com a ajuda do filho de apenas 14 anos, esconder seu corpo em um velho poço.

Tudo começa pela ganância. Arlette herdou dos pais 100 acres de terra. A herança traz a oportunidade de uma nova vida. Ela poderia vendê-las a uma grande companhia e finalmente dar o fora daquele fim de mundo. Mas Wilfred tem planos bem diferentes. Para concretizá-los ele precisa se livrar da esposa, e não deseja fazer isso sozinho. Assim, começa e envenenar o filho e não tarda para seus esforços culminarem em um sórdido assassinato.

Esse é o conto mais longo do livro e também a coisa mais aterrorizante que já li do autor. Muitos detalhes são de embrulhar o estômago, a linguagem do King é crua e algumas partes saltam nítidas diante dos olhos. É algo bem no estilo crime e castigo. Wilfred esperava uma vida longa e próspera após se livrar da esposa e se apossar de suas terras, mas as coisas degringolam. A relação com seu filho Henry azeda, um sentimento de repúdio parece emanar do garoto. As coisas na fazenda desandam e tem os ratos... 

 Durante todo o conto ficava na dúvida se os acontecimentos apontados por Will estavam mesmo acontecendo ou se eram produtos de sua mente perturbada e consumida pela culpa e pelo remorso. Seus carrascos estavam sempre à espreita, coisas ruins aconteciam o tempo todo. Até o final, que embora esperado, me surpreendeu e esclareceu muita coisa. 

“Em algum lugar, pessoas ouviam música, compravam coisas pela internet, cochilavam ou falavam ao telefone, mas ali uma mulher estava sendo estuprada, e ela era aquela mulher...
- Por favor – pediu ela. – Por favor, chega.
- Chega nada. Ainda tem muito mais – disse ele, e então Tess notou aquele punho descendo, tomando outra vez seu campo de visão.
O rosto de Tess ficou quente onde foi atingido, e, após um clique dentro de sua cabeça, ela apagou.” Pág. 166

Gigante do Volante nos apresenta Tess, uma escritora de mistério que apesar de seus 12 livros já publicados e das 12 palestras anuais, tenta levar sua vida num confortável nível de normalidade. Isso muda radicalmente quando, ao voltar para casa depois de um encontro com leitores, ela cai numa armadilha e é estuprada, sendo abandonada há um passo da morte. Ao reunir os pedaços que restaram de si própria, Tess se vê diante de alguém desconhecido, alguém disposto a ir até as últimas consequências por vingança.

Estupro é um tema pesado e muito desconfortável, e narrado por King, vira algo visceral! Acompanhar a angustia de Tess, os momentos degradantes, a tentativa de homicídio e sua estadia numa vala ao lado de dois outros cadáveres foi algo demolidor. E o futuro? As marcas físicas, as marcas psicológicas. O que as pessoas diriam? A quem ela poderia contar? O que será que a impressa noticiaria? Achariam que ela provocou? Fez por merecer, sozinha em uma estrada? Acreditariam que ela caiu em uma armadilha ou concluiriam que teve o que merecia? O que fazer quando toda esperança parece ter sido drenada?

Enquanto tenta responder a essas perguntas, planos de vingança começam a se descortinar diante de Tess. Os desdobramentos foram bem interessantes e fui pego de surpresa diante de muitos deles. Só não gostei de como algumas coisas iam sendo reveladas, tive a impressão que as respostas ocorriam muito facilmente a Tess. Fora isso, outro conto fenomenal.

“-Nunca pensei dessa forma, mas acho que você está certo. Embora, as vezes, um charuto seja apenas fumaça, e uma coincidência seja apenas uma coincidência. Todo mundo precisa de uma extensão, Sr. Streeter. Se você fosse um jovem que adora fazer compras, eu lhe ofereceria uma extensão de crédito. Se você fosse um homem com um pênis pequeno, já que as vezes a genética pode ser cruel, eu lhe ofereceria uma extensão peniana.” Pág. 271

Extensão Justa é o conto mais curto do livro. Nele deparamos com Dave Streeter, um homem vitima de um câncer em fase terminal. Certa tarde, Dave encontra um misterioso vendedor, o Sr. Odabi, que lhe oferece uma extensão de vida. Mas não sem um preço. Para que possa viver, Dave deverá anualmente abrir mão de parte de sua renda e o mais importante, assistir a ruína de um inimigo.

Esse me deixou sem palavras. Sério, quando cheguei ao final só conseguia pensar: “como assim, não é justo, não pode acabar dessa forma!” Mas acaba! Gostei tanto que durante a escrita dessa resenha resolvi ler de novo. Para minha surpresa, ainda consegui pescar alguns detalhes que passaram despercebidos na primeira vez que o li.

Não dá para entrar em detalhes, já que a história é bem curtinha, e saber demais certamente estragaria parte do prazer na leitura, mas acreditem, King foi genial aqui, e se uma coisa fica clara, é que nem sempre a vida é justa.

“Ela precisava ficar sozinha. Precisava... não exatamente pensar, mas se encontrar de novo. Ir para o lado certo do espelho.” Pág. 371

Darcy e Bob são os protagonistas de Um Bom Casamento. Eles estão juntos há mais de 20 anos e a rotina matrimonial não revela mais grandes surpresas. Em compensação, Darcy acredita que conhece cada faceta de Bob. Ledo engano. Basta topar em uma caixa escondida na garagem para que ela descubra o lado sombrio de seu companheiro.

É possível conhecer alguém completamente? A reposta do King é não. E nesse conto ele explora esse tema com maestria. Quando se depara com uma terrível faceta do marido, Darcy precisa decidir como continuar vivendo a partir daquele momento. Seu mundo desmorona e tudo no que ela acreditava parece frágil, insustentável. 

E novamente surge o dilema: “Será que as pessoas acreditariam quando ela dissesse que nunca desconfiou de nada? Como o homem que ela amou por toda uma vida poderia fazer coisas tão terríveis bem debaixo de seu nariz?”. Teci várias teorias sobre o final dessa história, achei que as coisas se desenrolariam de outra forma, mas novamente o mestre me surpreendeu. 

Não posso negar, essa não é uma leitura leve. Aqui King trata de temas espinhosos. Muitas passagens são angustiantes, outras simplesmente intragáveis. Os protagonistas se encontram diante de terríveis dilemas, aparentemente sem solução. Diante de tudo isso, o melhor e o pior de cada personagem vem a tona, para horror e deslumbramento do autor. É sombrio? Sim! Mas, de qual outra forma podemos contemplar plenamente a luz, senão emergindo das sombras?  

2 comentários:

  1. Quero ler esse livro e tudo mais do King, Jeferson. Os temas dos contos são realmente bem espinhosos, e pelo visto tratados com bastante crueza. Preciso ler. Ótima resenha.

    Abraços!
    http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/

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  2. Oi Jeferson, tudo bem?
    Quanto tempo! =)
    Estou louca pra ler esse livro, é uma meta pra 2016! Adorei a resenha.
    Feliz Ano Novo pra você, desejo um 2016 cheio de alegrias. =)
    Beijos,

    Priscilla
    http://infinitasvidas.wordpress.com

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Olá, obrigado pela visita!!!