Título Original: The Name of the Wind
Série: A Crônica do Matador do Rei
Autor: Patrick Rothfuss
Ano: 2009
Autor: Patrick Rothfuss
Ano: 2009
Gênero: Fantasia
Editora: Sextante
Nota pessoal: 5/5
“Meu primeiro mentor me chamava de E’lir, por que eu era inteligente
e sabia disso. Minha primeira amada de verdade me chamava de Duleitor, porque
gostava desse som. Já fui chamado de Umbroso, Dedo-Leve e Seis Cordas. Fui
chamado de Kvothe, o Sem-Sangue; Kvothe, o Arcano; e Kvothe, o Matador do Rei.
Mereci esses nomes. Comprei e paguei por eles.
Mas fui criado como Kvothe. Uma vez meu pai me disse que isso
significava “saber”.
Fui chamado de muitas outras coisas, é claro. Grosseiras, na
maioria, embora pouquíssimas não tenham sido merecidas.
Já resgatei princesas de reis adormecidos em sepulcros. Incendiei a
cidade de Trebon. Passei a noite com Feluriana e saí com minha sanidade e minha
vida. Fui expulso da Universidade com menos idade do que a maioria das pessoas
consegue ingressar nela. Caminhei a luz do luar por trilhas que outros temem
falar durante o dia. Conversei com deuses, amei mulheres e escrevi canções que
fazem os menestréis chorar.
Vocês devem ter ouvido falar de mim.” Pág. 58
Resenhar esse livro não
é lá tarefa das mais fáceis. É uma grande responsabilidade tentar condensar em
alguns parágrafos a magnífica experiência que foi me aventurar pelo fantástico
mundo dos Quatro Cantos e conhecer o corajoso Kvothe, mas vou tentar. Hoje
falarei de O Nome do Vento, primeiro
dia d’A Crônica do Matador do Rei de
Patrick Rothfuss.
Era o dono da Pousada
Marco do Percurso. Havia um ano que chegara a Nalgures, mas pouco se sabia
sobre ele, além dessas duas coisas, e que se chamava Kote. Um homem com semblante cansado, mas ainda jovem.
Provavelmente nem chegava perto dos 30. Jovem para um hospedeiro, jovem para um
homem com tantas rugas de cansaço no rosto.
Seus cabelos eram
ruivos de verdade, vermelhos como a chama. Seus olhos escuros e distantes, e quando
se movia, o fazia com a sutileza de quem conhece muitas coisas. E dele também
era um silêncio colossal, profundo e amplo como o fim do outono, pesado como um
pedregulho alisado pelo rio, paciente como o som de flor colhida, como o som do
homem que espera a morte.
Mas quando o renomado
Cronista Devan Lochees chega a
Nalgures, a história de Kvothe finalmente começa a ser descortinada. Um mito
que criou a si mesmo, sustentado por seus grandes feitos e pelas mentiras que
ele próprio contou e ajudou a alimentar.
O Cronista deseja a
história de Kvothe. Mas tudo que ele
quer é esquecer. Deixar o passado para trás. Mas talvez seja bom revisitá-lo
uma ultima vez. Assim, com certa relutância, ele conta tudo. Mas não sem um
preço. Três dias. É o tempo que precisa para contar sua trajetória. Cada detalhe.
“Preparem-se, porque agora a história dá uma guinada... para baixo.
Fica mais sombria. Nuvens no horizonte.” Pág. 99
A
partir daí passamos a conhecer o homem escondido sob a imagem de um simples
taberneiro. Na infância ele foi um Edena Ruh. Membro de uma trupe itinerante.
Vassalos de um grande Lorde. Descobrimos como ele conheceu um arcanista e começou
a estudar os caminhos que o conduziriam ao encontro com a magia de verdade.
Como uma grande tragédia fez ruir todo seu mundo e força-lo a buscar conforto
na música. Como chegou a grande cidade de Tarbean, onde era menos que um
pedinte e não mais que um reles larápio. Como foi desperto da letargia que
tomava todos os seus dias. Descobriremos como ele conheceu a mulher que
ocuparia seus sonhos e como criaria para si próprio um mito. Homem ou demônio?
E acima de tudo
acompanhamos como o desejo em aprender o nome de todas as coisas e a
necessidade de descobrir mais sobre o Chandriano – um misterioso grupo com
propósitos desconhecidos - e seus inimigos, o leva até a Universidade, um local
onde poderia encontrar a resposta a todas as suas perguntas.
“E foi assim que Kvothe
passou sua ultima noite antes de chegar a Universidade, com sua capa a lhe
servir de cobertor e cama. Quando se deitou, havia atrás dele um circulo de
fogo e, á frente, sombras reunidas como um manto. Seus olhos estavam abertos,
isso é certo, mas quem de nós pode dizer que sabe o que ele estava vendo?
Em vez disso, olhemos para trás dele, para o circulo de luz criado
pela fogueira, e deixemos Kvothe sozinho por enquanto. Todos merecem um ou dois
momentos de solidão, quando a desejam. E, se por acaso tiver havido lágrimas,
vamos perdoá-lo. Afinal, ele era apenas uma criança e ainda estava por aprender
o que era tristeza de verdade.” Pág. 215
*
* *
Em um campo onde pouco
se inova, Patrick Rothfuss chega e dá uma roupagem totalmente diferente a
fantasia épica. E o resultado disso é um livro magistral, belamente escrito e que
ganha o leitor logo nas primeiras páginas.
No inicio da narrativa
conhecemos Kote, um homem pacato dono de uma hospedaria em uma pequena cidade.
Mas essa imagem dura pouco. Logo descobrimos que de pacato Kote não tem nada e
que ele é muito mais importante do que tenta desesperadamente esconder. E aí
começa a imperar um ar de mistério. Quem realmente é o estalajadeiro? De onde
ele veio e o que fez para carregar uma dor tão grande quanto a que aparenta? As
respostas a essas perguntas começam a nos ser dadas quando surge em Nalgueres ‘O
Cronista’ e assim Kote começa a contar sua história.
Cada livro da trilogia
representará um dos três dias exigidos por Kvothe para narrar suas memórias. E
que memórias! O protagonista tem um cuidado grande com cada palavra que profere
e assim, nos o conhecemos sob sua própria ótica. Ele é um narrador interessante,
compassivo com seu “eu” mais jovem, mas extremamente irônico e bastante crítico
acerca da pessoa que vai se tornando.
Kvothe não é daqueles
protagonistas que simplesmente são fodões e ponto. Longe disso. Cada talento
seu foi duramente conquistado. Desde a infância instigado pelos pais a buscar
conhecimento, o garoto se tornou um grande amante das artes. A partir daí sua
curiosidade passou a não conhecer limites e ele a buscar uma explicação para
aquilo que não entendia. A dor de duras perdas e da solidão também ajudou a
moldá-lo, e é nesse momento que ele mais se aproxima de sua música, da magia e
da vingança. Para isso busca o conhecimento que poderia ser oferecido pela
Universidade, mas o caminho até ele é longo e doloroso. Sofri e torci demais
por esse personagem. Um rapaz solitário, pobre e esfarrapado, dormindo nas
ruas, vítima de diversas violências e roubando para continuar sobrevivendo. Mas determinado e ousado, que sabe o que quer
e não mede esforços para alcançar seus objetivos, independente das
consequências.
A narrativa do Rothfuss
se mostra bastante sensível. Achei incrível como Kvothe aprendeu a transformar
suas sensações em melodia. Tanto as externas com as internas. E foi
impressionante como a musica o ajudou no luto e como a impossibilidade de viver
sem ela o fez seguir adiante, em busca de uma forma de remediar aquilo que se
partiu. Queria me estender mais sobre isso, mas não quero soltar spoilers,
então só lendo para entender mesmo.
Umas das poucas coisas
que não me fisgou por completo foi o romance que acontece, ou o prelúdio dele.
O Kvothe fica completamente fascinado por certa mocinha que aparece e
desaparece quando bem entende. Não desgostei da Denna, mas também não torci
fervorosamente para que as coisas dessem certo entre eles. Vamos ver se no
próximo livro isso muda.
Outro diferencial dessa
fantasia é que o autor decidiu deixar a maioria dos seres comuns a esse gênero de
fora e tratar tudo de forma bastante lógica e razoável. A magia não é algo tão
simples quanto o balançar de algum objeto ou gestos de mãos. É tudo muito bem dosado,
calculado e requer bastante treinamento para ser feito. Além de muito perigoso
também. Praticamente uma ciência. De uma racionalidade que chega a parecer que
se seguirmos todos os passos conforme instruído seremos capazes de fazer o
mesmo. Ele nos mostra que fazendo uso dela, grandes coisas podem ser feitas.
Mas que ainda assim, na maioria dos casos, ir pelo caminho natural é muito mais
simples e confiável.
O mundo criado para
ambientar a narrativa também é muito crível. Os Quatro Cantos funciona pautado
em suas leis próprias. O autor criou calendário, sistema monetário, mitologia, religiões
e culturas bastante interessantes. Um mundo com suas próprias injustiças, seus
preconceitos e seus problemas sociais. E por falar em mitologia, não poderia
concluir sem citar o Chandriano, o misterioso grupo que norteia toda a busca do
protagonista. Nesse primeiro livro muito pouco nos é dito sobre quem eles
realmente são. As sombras que envolvem essa organização são densas, e não vejo
a hora de saber mais sobre eles.
Se você gosta de fantasia
e ainda não conhece essa trilogia, ou se simplesmente está em busca de algo
diferente, livre dos lugares comuns nos quais muitas obras desse gênero acabam
se perdendo, então A Crônica do Matador do Rei é para você. Como a maioria dos
bons livros, esse também vai exigir um pouco mais de atenção e dedicação por
parte do leitor, mas vale muito a pena. Leiam!
Trilogia A Crônica do Matador do Rei:
Primeiro Dia - O Nome do Vento
Segundo Dia - O Temor do Sábio
Terceiro Dia - Doors of Stone (Ainda sem previsão de lançamento.)
Interligados:
* A Música do Silêncio (Lançamento previsto ainda para 2014.)
Embora não seja muito o meu gênero a história me chamou bastante atenção.
ResponderExcluirSaudades de comentar aqui, porém não me esqueci viu? Desculpe-me rs
Beijos, Ariane!
www.diariodostreze.blogspot.com (visita?) ♥
Olá Ariane,
ExcluirQue bom que a história conseguiu despertar seu interesse, espero que em algum momento você possa lê-la. Ah, que bom que conseguiu me fazer uma vizitinha, fico muito feliz.
Abraços!!!
Já tinha visto alguns elogios sobre o livro, nada muito concreto mas o suficiente pra me fazer ficar com vontade de ler. E seus comentários elevaram essa vontade a outro nível, Jeferson. Mais uma trilogia pra minha lista. Ótima resenha.
ResponderExcluirAbraço!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/
Adoro viajar em uma bela e misteriosa história, estou ansiosa para começar a ler essa trilogia.
ResponderExcluirAmei a resenha, ficarei aguardando as demais.
Passarei sempre por aqui.
Abraços!!